quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Pensando o Futsal – Novos Caminhos


Considero que uma minoria das crianças chegará ao esporte profissional, reduzir o esporte na infância ao treino, à competição, à formação de atletas, à conquista de resultados expressivos, é assumir que a pedagogia do esporte fracassou.
(SANTANA, p.46, 2004)

Muitas vezes, experientes ou não, no que se diz à prática das aulas de educação física e de esportes, nós professores temos como tendência a sistematização de aulas que tendam ao imediatismo do ensino, baseado nos modelos de alto-rendimento e de conquista exarcebada da vitória.
O modelo competitivo acaba sendo a base de todo processo de “ensino”, incluindo muita vezes a abordagem tradicional do “ensino” do jogo baseado na fragmentação deste em partes isoladas, como “ensino” do passe, “ensino” da finalização, “ensino” do drible, “ensino” da condução, etc..
Partido desse princípio metodológico, nós professores concebemos o jogo como sendo um sistema dotado de partes que quando somadas, formam novamente esse sistema. Uma operação matemática simples e perfeita! Mas na verdade a coisa não é bem assim.
Sendo o jogo um ambiente dotado de imprevisibilidade – a final, temos inúmeras possibilidades de execução de uma única ação – e por sua vez dotada de complexidade, será mesmo que um aluno que aprende a passar, depois a finalizar, depois a conduzir, e assim por diante, saberá JOGAR O JOGO chamado Futsal ?

O ensino tecnicista e fragmentado nos remonta à idéia de que o jogo é EXATO. Falsa ilusão.

De acordo com a visão sistêmica – uma teoria que estuda sistemas dotados de elementos, estes que executam atividades com pelo menos outro elemento, que sofrem influência de todas as relações entre e com outros elementos, de forma dinâmica e complexa, formando assim um sistema, que interage com outros sistemas, mas tem sua característica própria baseada nas ações de seus elementos internos – “o todo é mais, ou menos, do que a soma das partes”. (D’OTTAVIANO & BRESCIANI, 2004).
Logo, sendo o jogo um sistema dinâmico, complexo e imprevisível, como é possível ser a soma das partes (elementos técnicos) igual ao todo? No jogo de Futsal, posso afirmar baseado nessa premissa, que a dinâmica do jogo difere da soma de seus elementos técnicos, “ensinados” de forma isolada e fragmentada.
Digo que essa abordagem tradicional do alto rendimento é errada na iniciação e nas atitudes pedagógicas – portanto, erradas também no alto rendimento, uma vez que este é também um ambiente pedagógico.
Voltando para a iniciação esportiva – não estou falando em idades, categorias, mas sim em iniciação, afinal, quantos de nós não chegamos a fase adulta sem ter tido contato com determinadas modalidades? – o ensino do Futsal deve basear-se na construção conjunta de suas regras, através de pequenos jogos com propósitos que vão além da vitória e da derrota, mas do aprendizado de conceitos lógicos do jogo, possibilitando ao envolvidos no ambiente de aula ter ao seu fim a sensação de aprendizado conquistado e de compreensão do jogo.
Para atingirmos esses preceitos – a aprendizagem do Futsal de forma contextualizada com a modalidade e atingindo objetivos que estejam voltados com o aprendizado e não com a vitória a qualquer custo – temos que seguir alguns preceitos de ordem metodológica e de ética profissional.



  • As aulas devem construir conhecimento: o professor da iniciação deve ter como pressuposto inicial a idéia de que as aulas são um momento de simbiose de conhecimento, onde alunos e professor possuem experiências anteriores à daquela aula e estas devem ser respeitadas e ouvidas por todos envolvidos no momento de aula;



  • As aulas devem ensinar a jogar e não a repetir de forma fragmentada: sendo o jogo imprevisível e complexo, a repetição não determina a possibilidade de jogar bem.“Ensinar” pela repetição fragmentada e depois cobrar atitudes inteligentes é negligência. O professor deve estimular a criatividade com jogos de regras adaptadas, que privilegia a tomada de decisão e execução técnica no contexto do jogo.

  • As aulas devem incluir e não excluir: aulas cujo momento do jogo – momento mais esperado da aula – seja administrado da forma tradicional e pautado no rendimento, onde “quem ganha fica e quem perde sai”, tendo equipes na fila de espera, deve ser substituída por jogos reduzidos – mas que mantenham a lógica do jogo e jogos pré-desportivos que possibilitem a participação de todos. Em caso de aulas onde o Jogo Formal deva ser abordado (o que é uma obrigação do professor a meu ver), utilizar os alunos como treinadores, avaliadores, analisadores do jogo, os ensinando a avaliar e encontrar soluções, mesmo estando momentaneamente fora do jogo é algo possível e dotado de valor pedagógico.
Esses três pontos, se pensados e aplicados no momento de aula, possibilitarão maior aprendizagem de todos os envolvidos na aula, desde alunos, até ao professor.

A iniciação não é um ambiente de repetição de formas tradicionais de abordagem esportiva, acríticas e repetitivas. O ensino deve basear-se na construção mútua – a final, se nos basearmos em jogos, os alunos poderão nos mostrar falhas ou melhoras possíveis para a realização desses jogos – e valorização das atitudes de cada envolvido no ambiente de aula.
Bibliografia
SANTANA, W. C. Futsal: apontamentos pedagógicos na iniciação e na especialização. Campinas: Autores Associados, 2004.
D’OTTAVIANO I.M.F. & E. BRESCIANI. Auto-organização e criação. In. Revista MultiCiência: a mente humana, outubro, 2004. [clique aqui]

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